Bartolomé De Las Casas

     Frei dominicano Bartolomé de Las Casas, e sua luta em defesa dos nativos do “Novo Mundo”, Las Casas presencia diversas etapas da colonização espanhola nas Américas e é com base nessas experiências onde começa sua devoção a causa nativa.

    Desde a vinda a América, onde em um primeiro instante, colonizador, e encomendeiro, e após alguns acontecimentos que vão mudar sua visão, a respeito desse mecanismo e das práticas adotadas pelos espanhóis nestas terras, Las Casas dedica sua vida em prol dos nativos, apelando ao rei, nos debates da corte, convertendo-se a ordem dominicana, e através de tentativas frustradas de uma colonização pacificadora nestas terras.

Os estudos apontam para o ano de 1474 o ano de nascimento de Las Casas, mas de acordo com estudos recentes, revelam que o ano certo de seu nascimento é o de 1484, o dia seria 11 de Novembro de acordo com a especialista americana Hellen Hand em seu livro “The correct birthday of Bartolomé de Las Casas”.

O ano de 1502 dará inicio a vida de Las Casas em terras americanas embarca em uma expedição com o governador Nicolas de Ovando, chegando a Santo Domingo (Haiti) em 15 de Abril. Em 1503 Las Casas recebe terras em Concepción de La Vega, como clérigo deveria ajudar na cristianização dos nativos, mais em seus relatos posteriores afirma que a ação de colonizador foi a que atuou com mais freqüência. Neste mesmo ano se oficializa a instituição da encomienda, que se traduz na utilização de terras usando mão de obra indígena no trabalho servil.Apesar de Las Casas se utilizar dessa mão de obra, única disponível por sinal, tratava seus servos, com bondade.

Após quatro anos, em 1507 ou 1506, (não é precisa esta data), Las Casas vai a Roma, é ordenado padre, entretanto o autor não discute com mais profundidades os locais de sua ordenação, optando por sua terra natal, sua “querida Sevilha”.

1510 é o ano em que o já ordenado padre Bartolomé de Las Casas, ministra sua primeira missa, e como ele próprio se denominava, “O primeiro Padre das Américas” não diferente de seus iguais na metrópole, pregava o amor a cristo, e seus mandamentos, gostava de exaltar as coisas boas desta terra, cantava e escrevia como a natureza daqui era exuberante.

Las casas é profundamente tocado pelo sermão do então dominicano Frei Antônio de Montesinos que atacará os mecanismos que os espanhóis aplicam nos nativos destas terras, o ano foi o de 1511, a seguir o sermão do frei dominicano:

“Esta voz lhes está bradando: Vocês estão todos em pecado mortal, nele vivem e morrem, pela crueldade e pela tirania que praticam contra esse povo inocente.

Digam: Com que direito e com que justiça vocês mantém esses índios em tão cruel e horrível servidão? Com que autoridade vocês tem feitos guerras tão detestáveis contra esta gente, que esta tranqüila e pacífica em suas terras, onde multidões incontáveis delas, com mortes e danos nunca ouvidos, vocês exterminaram?

Como vocês os mantém na opressão e na fadiga, sem dar-lhes de comer e curar as enfermidades que contraem em razão dos excessivos trabalhos que vocês lhe impõem? Eles chegam a morrer, ou, para melhor dizer vocês os matam, para arrancar e adquirir ouro a cada dia.

Que cuidados vocês tem de alguém lhes ensine a doutrina e de que conheçam a seu Deus e criador, sejam batizados, ouçam a missa, guardem as festas e os Domingos?

Estes não são homens? Não têm almas racionais?

Não estão vocês obrigados a amá-los como a vocês mesmos?

Isto vocês não entendem? Não sentem? Como estão mergulhados em sonos tão letárgicos?

Estejam certos: No pecado em que estão, vocês não poderão salvar-se mais do que os mouros os turcos que recusam a fé em Jesus Cristo ““.

Las Casas obtém um repartimiento perto de Concepción de La Vega onde exercia ao mesmo tempo o papel do ministério sacerdotal, neste mesmo ano em 1513, participa da expedição a Cuba como capelão da frota de Pánfilo de Narvaez. No ano seguinte, ainda em Cuba, abandona suas propriedades, e índios, e comunica a sua decisão de lutar pela causa indígena. 1515 Las Casas conhece Hernan Cortez, vai a Santo Domingo ter com Frei Pedro de Córdoba, superior dos dominicanos, onde tem a promessa que em dezembro, teria um encontro com o rei Fernando o Católico.

Um ano depois, o rei espanhol morre, Las Casas vai ate cisneiros e Adriano, regentes neste período. Em Abril as idéias de Las Casas começam a ser discutidas e em Setembro é nomeado protetor universal dos índios.

No ano de 1517 quatro meses após a sua chegada a Santo Domingo, vê seu empreendimento de projeto pacificador fracassado, indo nesse mesmo ano, em Abril de volta a Espanha comunicar a Cisneros seu fracasso.

Os anos seguintes de 1518 a 1521 seguem como um duro golpe nas pretensões de Las Casas. Em 18 tem permissão real para implantar seu projeto pacífico colonizador, em 20 ele embarca com 50 colonos e alguns religiosos dominicanos; 21 seu grupo chega a Porto Rico, após uma série de baixas e deserções, oposições dos governadores locais, o projeto fracassa entrando em 1522 na ordem dos dominicanos aconselhado pelo frei Domingos de Betanzos.

Na longínqua Chiapas o agora Dom Frei Bartolomé de Las Casas é eleito Bispo desta província, permanecendo apenas por dois anos no cargo de 1526 a 28, devido a um forte sentimento de raiva, que os colonos desta região sentiam por ele, pois creditavam as tentativas de intervenção da coroa espanhola, na prática da encomienda, e com as novas leis, sendo mais a frente, mas precisamente no ano de 1545 é consagrado Bispo da cidade de Chiapas em Sevilha onde retorna da Espanha para esta mesma cidade.

Pulamos alguns anos, e chegamos ao período de 39 a 42, onde o bispo volta à Espanha e escreve sua obra mais primorosa “A brevíssima relação das índias, o paraíso destruído”.

Os anos de 1547 em diante, serão decisivos para a luta de Las Casas, neste mesmo ano ele retorna a Espanha, e não volta mais as Américas. 48 é o ano em que Las Casas tenta impedir a publicação do Democrates Alter, de seu maior opositor Juan Ginés de Sepúlveda.

Os anos finais da vida de Las Casas serão dedicados ao entrave jurídico contra o doutor Sepúlveda, em 1549, sem confirmação precisa, escreve sua obra Argumentum apologiae, que foi lida na junta de Valladolid contra Sepúlvida, chegando a renunciar a sua Diocese para se dedicar ao debate contra Sepúlveda no ano de 1550. Dos anos cinqüenta ate o final de sua vida no ano de 1566, Dom Frei Bartolomé de Las Casas, dedica suas forças finais, na composição dos oito tratados, começando pela Brevíssima Relação, em 1564 escreve seu testamento onde confia suas obras ao Colégio de São Gregório de Valladolid, morrendo em 1566 com oitenta e dois anos no convento de Nossa Senhora de Atocha, Madri em 18 de Julho.

Os dados acima, apenas trazem uma cronologia base, para entendermos o processo que levou Las Casas a adotar a causa indígena como luta pessoal.

Entretanto, no decorrer deste trabalho ficaremos com a descrição de algumas datas importantes, que marcaram a passagem do frei nas Américas, e sua luta nos debates jurídicos na corte espanhola.

A sua participação como capelão na expedição a Cuba, e a experiência de presenciar tal massacre, o episódio onde o frei Antonio de Montesinos prega em prol da defesa indígena, sua tentativa de implantar uma colonização pacífica, entrada na ordem dominicana e por fim, sua publicação de “O Paraíso Destruído” e seu debate contra Sepúlveda, até o ano de sua morte.

            Ao trazer este trabalho, me preocupei em apresentar a visão humanitária de um dos personagens mais marcantes no período da colonização espanhola. Frei Las Casas foi personagem ativo nesse processo, de reconhecer o nativo como ser humano, dotado de sentimentos e demais características, igualmente aos espanhóis, que se diziam superiores e por isso, aptos a dominar tais povos.

Trazendo os valores que Las Casas buscou apresentar seja em seus debates, nas suas teses, e em seus livros, trouxe também uma nova forma de ver, a colonização das Américas. A visão dos vencidos ate então esquecida pela historiografia, que narrava apenas a historia dos vencedores, no caso os espanhóis; Las Casas vai dar inicio a uma revolução historiográfica, (no caso, anos depois de sua morte) dando origem a uma rica historiografia que cada vez mais, nos proporcionam relatos, historias e segredos, oriundos dos povos dominados que ate então nos não conhecíamos.

 Suas obras trazem informações com riquezas de detalhes, de quem presenciou esta etapa, descrevendo como os espanhóis ameaçavam e plantavam um terror psicológico tão grande, que nenhum nativo se atrevera a ir contra esses homens.

A narrativa de Las Casas segue um tom humanitário, de acordo com diversas obras publicadas pelo frei, e posteriores a sua morte, temos bem claramente um caráter humano em suas descrições dos nativos, de suas terras, de sua gente e cidades, não se deixando cegar-se pelas riquezas inegáveis que nestas terras havia.

Com destaque para sua obra mais primorosa, onde relata fielmente, pois esteve nestas terras e presenciou tais narrativas, em “Brevíssima relação da destruição das Índias, O paraíso destruído” Las Casas em seu relato têm por base três objetivos principais: Para liberar a Espanha do gravíssimo erro de acreditar que os índios do “Novo Mundo” não são homens, pois os espanhóis não os consideravam assim, creditando toda bestialidade, e incapacidade de receber a virtude e a doutrina cristã.

Tendo esta visão a respeito dos nativos, os espanhóis desestruturaram suas sociedades, aumentando ainda mais o grande mal que existia entre colonos e nativos.

Por fim, alertar a coroa da Espanha para a real situação da colonização destas terras, denunciando os abusos, maus tratos e todos os pecados cometidos contra os índios destas terras.

Foi com estes objetivos que Las Casas escreve sua obra, entretanto seus ganhos em prol da causa nativa são bem pequenos, em virtude da magnitude deste processo, tendo como causa ganha, algumas leis (Chamada Nuevas Leis, ou Leis de Burgos), que mesmo após sua implantação, pouco mudou o sistema aplicado pelos espanhóis aos indios, ganhou alguns debates junto à corte da Espanha, a favor dos nativos, porém, ganhos que apesar de defender os nativos, pouco mudou a forma e os mecanismos de conquista e colonização dos espanhóis neste “Novo Mundo”.

  

 

Frei Bartolomé De Las Casas