As teorias da superioriadade espanhola

 

 

 

Quando falamos de colonização espanhola, a primeira coisa que vem em nossas cabeças, é a imagem dos espanhóis chegando em terras indígenas, com seus cavalos e armaduras, portando espadas de metal, cheios de cobiça e desejos pelas riquezas e as terras que acabaram de chegar.

Pois bem, como podemos entender que tal ocupação por parte dos espanhóis foi de certa forma, fácil, já que eram em menor numero e mal conheciam aquele terreno selvagem?

 

Em primeiro lugar, podemos trabalhar com a teoria de que os europeus chegaram em uma época que coincidia com uma antiga lenda religiosa indígena, na qual deuses montados em criaturas estranhas, portando armas jamais vistas pelos indígenas, de pele e cabelo igualmente diferentes, chegariam, logo após a teoria do fim do mundo.

Como diz em seu livro, o escritor Todorov, descreve: “O erro dos índios, aliás, não durará muito. O suficiente, entretanto, para que a batalha seja definitivamente perdida e América submetida á Europa”.(1)

 

“Tanto no México quanto no Peru os documentos nativos descrevem uma atmosfera de terror religioso imediatamente antes da chegada dos espanhóis. Mesmo sendo interpretações retrospectivas, essas descrições atestam o trauma por que passaram os americanos nativos: Profecias e presságios haviam predito no final dos tempos; Então de repente, apareceram monstros de quatro pernas montados por criaturas brancas de aparência humana.”“.(2)

  

Espanhóis avistam Cuzco(Império Inca)

Essa teoria, realmente começa a clarear os fatos, mas não explica de maneira convincente a ocupação espanhola, ate porque, de acordo com Nathan Wachtel, nem todas as sociedades indígenas, acreditaram nessa teoria, ou a viam com um certo receio, e após presenciarem a cobiça e a ganância, os abusos dos conquistadores, perceberam que ali não existiam deuses coisa nenhuma, e sim homens como eles, de carne e osso.

 

“Um notável incidente nos da a prova disso. Nas proximidades de Cuzco, os soldados de Pizarro capturaram mensageiros que Callcuchima enviara a Quizquiz; Levavam noticias importantes sobre a natureza dos invasores: Callcuchima os havia enviado para informar Quizquiz de que eles (os espanhóis) eram mortais”.(3)

 

 

Então para entendermos de forma mais esclarecedora, deixemos de lado a visão religiosa e mística, dos índios pelos espanhóis, e vamos analisar aqui, a supremacia militar espanhola.

Mas que supremacia era essa? Claro que armaduras contra as túnicas de algodão dos indígenas, ou os arcos e flechas, contra os arcabuzes espanhóis, as espadas de metal contra as lanças de madeira, cavalaria contra infantaria, claro que isso contribuiu, mas no inicio da conquista, os espanhóis contavam com poucos cavalos e armas de fogo, de acordo com Nathan W. isso foi mais um fator psicológico do que algo realmente decisivo.

   Demonstração Bélica Espanhola
 

Então, o que fez os espanhóis terem essa superioridade frente aos milhões de indígenas?

Tanto os astecas como os incas, eram civilizações imperialistas, ou seja, haviam se constituído através de conquistas sucessivas, e ai esta a chave da nossa questão.

Os povos dominados por essas civilizações, enxergaram em Pizarro e Cortez, a chance de se verem livres do domínio asteca e inca, fornecendo a maioria esmagadora, de homens para os exércitos espanhóis.

 

 

“O resultado do conflito não dependeu apenas da força dos oponentes: A partir da perspectiva dos derrotados, a invasão européia também continha uma dimensão religiosa e mesmo cósmica. Saques, massacres, incêndios: Os índios estavam vivendo o fim do mundo; A derrota significava que os deuses tradicionais haviam perdido seu poder sobrenatural. Os astecas acreditavam ser o povo escolhido de Huitzilopochtli, o deus Sol da guerra; Sua missão era colocar sob seu domínio os povos que rodeavam Tenochtitlán por todos os lados. Dessa forma, a queda da cidade significava infinitamente mais que uma simples derrota militar. Determinava o fim do reino do deus Sol. A vida terrena havia, por conseguinte, perdido todo o significado, e, uma vez que os deuses estavam mortos, somente restava aos índios também morrer”.(4)

Já na sociedade dos Andes, o inca, era considerado o filho do sol, e por isso era o mediador entre os homens mortais e os deuses, inclusive ele próprio era adorado como tal.

Com sua morte o elo de ligação entre o sobrenatural e o físico se perdeu, e por essa razão a sociedade andina, se viu em destruição sem o seu ponto de referencia e equilíbrio, caminhava para o fim.

Após o massacre indígena, causado pelas guerras, pela fome e principalmente pelas epidemias, a sociedade indígena, foi totalmente desestruturada, fazendo com que os nativos que ali habitavam, fossem tratados como escravos, e como verdadeiros objetos.

 

  

Espanhol e as epidemias (Varíola)

 

Citações:

 

Tzvetan Todorov, A conquista da América, a questão do outro, São Paulo, Martins fontes, 2003      (1)

Arquivos históricos de Cuzco, “genealogia de la casa y família da Sayri Tupac”, libro I, índice I.         (2)

Historia da América Latina vol, I, América Latina colonial, Leslie Bethell (Cap.. 5 os índios e a conquista espanhola,

Nathan wachtel , pág 195) São Paulo, editora Edusp; Brasília.                                      (3)

Nathan Wachtel op. Cit, pág. 199.                                                                                                                (4)